quinta-feira, 17 de dezembro de 2009


A JANELA DE CORTINAS BRANCAS

(Este Conto foi o primeiro colocado em Concurso Literário realizado pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí, quando de seu centenário em Setembro de 2009).

Naquele dia trabalhei até tarde da noite. O meu turno, no escritório, terminava por volta das vinte horas, mas as horas se estenderam muito. Eu deveria dar continuidade ao meu relatório do balanço da Empresa para apresentar ao administrador pela manhã. Além da chuva torrencial que caia, o dinheiro do ônibus se acabara e não vendo outra solução considerei que a melhor seria dormir no local de trabalho.
Eu até que gostava; sentia-me livre da lotação dos ônibus e naquele horario o trânsito se tornava muito difícil e também porque eu poderia cativar a doce Lucinda que trabalhava como garçonete no bar de seu Alarico.
A chuva caía insistentemente desde o início da noite sem previsão de parar. Por volta das vinte e duas horas desci até a lanchonete de seu Alarico, para tomar uma dose de café e rever Lucinda que sempre se distraía com a minha presença. Seu sorriso brejeiro e as reclamações de seu Alarico faziam dela uma conquista difícil. Porém, ela tinha um jeito todo especial que muito me cativou; seu sorriso doce mostrava seus dentes alvos como a neve. Ela sabia de minhas reais intenções, mas até então permanecia sem me dar muito zelo. Depois, mesmo com sua distração eu retornava satisfeito ao trabalho.
Uma das janelas do escritório dava para o cemitério do outro lado da rua, enquanto a janela lateral abria-se para uma capoeira circundando todo o prédio, num aspecto carregado e ao mesmo tempo intimidante. Ali os marginais se ocultavam para praticarem assaltos, tornando aquele local quase deserto. Era comum os casos de assaltos e até de morte. A polícia fazia o possível para prender os meliantes mas não havia sucesso e os marginais permaneciam aterrorizando a população.
Porém, aquela noite reservaria lances inesperados para todos nós. Ocorrências das mais infelizes, trazendo desassossegos e inquietações para a população que labutava diariamente em busca de seus afazeres. Foi por volta das vinte e três horas que ouvi gritos vindos da rua lateral. O bar de seu Alarico havia sido atacado e roubado por alguns indivíduos das redondezas.
Fiquei desesperado. Como estaria Lucinda?
Desci correndo as escadas e logo soube que trancaram os dois no banheiro nos fundos do bar enquanto depenavam o bar e objetos de frequentadores. Levaram até a máquina registradora, além de suas parcas economias escondidas sob o balcão. Soubemos depois que os mesmos assaltantes roubaram e mataram uma mulher nas proximidades do cemitério. Todas as pessoas demonstraram expressões de pavor e um medo incontido tomou conta de todos. Os corações bateram céleres ante a notícia que chocou a todos nós. A morte de uma inocente, logo ali, bem próximo ao nosso convívio.
Era o meu caminho diário para chegar em casa. Uma caminhada de poucos minutos por dentro do bosque até a avenida onde ficava o ponto de ônibus, mas suficiente para assustar devido a área deserta. Algumas vezes a companhia de um ou de mais colegas dava-nos um certo conforto, mas mesmo assim rezava para todos os santos para que nada acontecesse. Lembrava até da mãezinha querida que em casa ficara.
As pessoas foram se retirando aos poucos entre conversas e murmúrios relativos à falecida e outros assuntos menos felizes. Aproximei-me de Lucinda enquanto o coração apertava-me o peito e aquele fato trouxe o pretexto de um colóquio e durante quase uma hora permanecemos contando histórias de um e de outro, até que me despedi e voltei para o escritório. Ao entrar tranquei mais que depressa a porta, janelas e fechei as cortinas, reiniciando a digitação do balanço que deveria entregar no dia seguinte. Por volta das duas horas da manhã acomodei-me para dormir no sofá.
Faltavam poucos minutos para as três horas da manhã quando fui surpreendido por um ruído vindo da porta principal do escritório. Sobressaltado, levantei-me com o lençol sobre meus ombros e me escondi por detrás das cortinas brancas da vidraça e permaneci em silêncio, mas trêmulo de medo. Um suor frio percorreu-me a espinha quando vi um vulto alto e forte, com um gorro escuro cobrindo a cabeça, caminhar pela sala com uma lanterna de claridade pálida, tão fraca que mal dava para iluminar o ambiente. Atravessou a sala e se plantou bem à minha frente. De onde eu estava podia vê-lo mas não ele a mim e por isto permaneci quieto como uma estátua, mas a minha respiração era tão ofegante que me parecia sacudir toda a janela.
Quando o salteador se aproximou mais da vidraça, na procura de algo valioso, o farol de um carro iluminou o ambiente jogando a minha imagem sobre a parede do escritório, dando uma exteriorização assustadora que fez o homem sacudir violentamente o corpo para trás e empunhando algo que não puder perceber, gritou com voz ameaçadora:
-“Quem está aí? Tem alguém escondido aí? Se tiver vai morrer agora!
Sem saber como, brotou-me uma coragem que eu mesmo não pude perceber e com voz estorvada de pavor, repliquei:
-“Não pode me matar porque já estou morto há muito tempo. Aqui, neste local ralei, aqui eu estou padecido...”
O estranho não esperou pelo fim das palavras... saiu em desabalada carreira, tropeçando nos móveis e derrubando cadeiras, saindo pela mesma porta que entrou, desaparecendo escada abaixo e sumindo no meio do mato.
No dia seguinte soubemos que a polícia havia capturado um criminoso que confessou seus comparsas e o assalto ao bar de seu Alarico e o assassinato da mulher, ocorrido em frente ao cemitério, além de outros crimes acontecidos na região. Ele dizia insistentemente ter conversado com um morto... jurava aos céus nunca mais fazer mal a ninguém.
-“Um morto em um grande lençol branco” - dizia ele - e apontava para o alto, a janela de cortinas brancas.


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MELODIAS DA ALMA

Quero encontrar a fonte do Saber
Projetada para guiar a Luz da Cultura
Imantar da água cristalina das alturas
E poder sonhar e me ver crescer.
Quero conhecer a Paz e o Amor
Conhecer a dor e a esperança,
O poema que existe em cada flor,
Ser o criador como o sorriso da criança.
Quero ser como os pássaros, a liberdade
Que anuncia um novo alvorecer,
Aprender a alçar meus vôos sobre a cidade,
E sentir o calor que ilumina meu viver.
Quero buscar em cada poema,
Todas a linhas e todos os versos,
E amanhecer nos braços de Apoema
A índia que vê longe meus versos.
Quero viajar como o escritor
Ser o autor de epopéias no mar
Nas ondas do mar o esplendor
E todos os meus sonhos recordar.
Quero a taça levantar e brindar
Nesta suave canção do meio-dia
E pelas ruas da cidade caminhar
E cantar esta triste melodia.
Quero gritar ao mundo a desdita
Do poeta que sonha e vibra,
Quando escreve e faz chover
Ou exaltar o seu viver.
Quero finalmente, dizer adeus,
Despedir-me dos poemas meus
Acenar ao mundo o meu canto
E todos os desencantos meus.


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ENTRE PEDRAS E ESPINHOS


Encontramos pedras no caminho
entre espinhos e flores;
Sem serem regadas, são machucadas
pelas pedras do caminho.

As flores amarelas e vermelhas
que se cruzam pelo caminho,
Dão colorido aos passarinhos
Entre as pedras e os espinhos.

À noite, sob o luar e as estrelas
suavizadas pela tênue claridade
Elas se fecham na obscuridade
entre as pedras do caminho.

Durante o dia, sob o Sol causticante
as flores entristecidas e aquecidas
retraem-se como antes
entre os espinhos aguçantes.

As aves se deliciam
no banho de areia fina
e na fina flor, entre os seixos
e os espinhos das margaridas
os pássaros povoam os leitos
entre os espinhos do caminho.

CEM ANOS

É com júbilo de Vitória
Que hoje brindamos o sucesso
dos Cem Anos de História
De educação e progresso.

Um ensino de excelência
Deu-nos a nossa nação
Por isso cantamos um Hino
Ao Brasil, por aclamação.

Salve, Nosso Instituto
Nesse dia inesquecível
Todos nós formamos a Unidade
do saber incoercível!

Salve o Nosso Instituto
De ensino da lógica
aos jovens de mente adulta
à Causa da Ciência Tecnológica!

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A MATEMÁTICA

A matemática é o fio condutor,
a luz dirigente do mundo
a mola mestra do Universo;
Por isso aprecio a matemática
Como aprecio uma flor
E toda a dinâmica do estro instrutor.

Conhecer a matemática é viajar
num mundo contínuo e sem fundo;
Poder beber a euforia de cantar
e elevar os cálculos da álgebra profunda
E todas as suas combinações
No auge das tangentes ações.

Viver este axioma dos sistemas
regidas por leis físicas,
É viver os rigores das frações e temas;
Rever as divisões e reações químicas
ou o concreto indefinido
do Universo onde me animo.

É a matemática, sequências finitas e infinitas
da hipotenusa e suas abrangências;
De números e resultados que fascina...
Do lápis, toda a coreografia que ensina
teoremas e segmentos
frases e até por centos.

Matemática não é só resultado
É poesia cantada, cultura atuante
de energia e fração sideral;
Estudar a matemática é navegar...
É amar a arte a cada instante

É como Beijar a Flor os Versos e a Amante.

A matemática é a poesia minha
versos inacabados e números alijados
de propriedades e probabilidades;
Somas subjacentes ou conceitos básicos,
É enfim em tudo minha realidade
A minha constante e real idade.

Vivo o desígnio da matemática
numa ação permanente e quociente
sem imitar os antigos sonhos alados,
considero a matemática sempre presente
em todos os nossos postulados
e dos ardentes beijos calados!


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Do "Ser" e não do "Ter"

03/05/2009

Fui criado com princípios morais comuns. Meu pai dava-me conselhos que eu recebia com sorrisos. Sorrisos de gratidão. Quando menino, sentia a sua proteção como um deus, um deus isolado e triste. Mas eu permanecia sem preocupação alguma. No domingo, nas matinês delirava de alegria pela música no início dos filmes. Meu pai permanecia triste em casa lendo o Jornal "O Estado de São Paulo" e as notícias graves de corrupção e isso em 1963. Mas mesmo assim eu gostaria de voltar a esses tempos de fantasia que vivia; Mesmo com a existência de tanta podridão nos canais do governo, eu gostaria de voltar àquele tempo.

Queria dizer basta a esta inversão de valores e ideais. E fazer calar a boca de políticos ladrões, e assistir o crescimento do justo, do verdadeiro. Do Ser e não do Ter.

Em suma, receber de volta todo o retorno da verdadeira vida, simples, muito simples como a gota de chuva clareando a atmosfera.
E o odor suave das plantas molhadas, da terra fendida e fresca sob nossos pés.
E comum, assim como eu.

É por isso que me enfileiro por essas paragens, nessa messe de jornalistas e escritores que se entregam de corpo e alma ao combate à essa súcia de golpistas de nossos dias e busco os artigos mais inflados e os encontro aqui, ao meu alcance os jornalistas que não buscam receita de bolos ou pudins. Mas obedecem a um princípio comum, igual àquele que me pai ensinava. O da responsabilidade, da verdade, do respeito e da dignidade.

Por isso tenho lido com atenção os artigos atestados e recheadas de autenticidade. Trazem uma linguagem simples e clara e ao mesmo tempo voltada para a verdade dos fatos. Os artigos de Jeovah de Moura Nunes me fazem lembrar Boris Casoy, o jornalista que foi demitido da Rede Record de televisão a mando dos ministros de Lula. Lembro-me de suas clássicas palavras: "Isto é uma vergonha!". Boris mesclava arrojo e coragem e aquele acendimento de aversão pelo governo Lula. A sua aversão tinha e tem um motivo, a intolerância dos petistas e os desmandos dos ministros de Lula. A sua defesa incidia em falar a verdade, com denodo e autêntico jornalista. Na televisão ele era a extensão das nossas mãos e das nossas bocas porque protestava da mesma forma como gostaríamos de protestar. Assim como Boris, este jornalista é igualmente a extensão da nossa insatisfação, do nosso repúdio e mostra o nosso desagrado por este governo de desonestos. Usa a caneta com sabedoria e sua mente brilhante lhe confere ser um dos maiores jornalistas em atividade no Brasil! Jornalista adequado aos políticos de hoje, pois se os políticos corrúptos merecem a espada, o jornalista tem: a caneta! Jeovah não é um jornalista que se ocupa com banalidades. Escreve a verdade dos fatos. A sua visão jornalística é marcante, pois é correta e criteriosa. Quem redargüirá as suas palavras? Por exemplo, sobre o SUS: qualquer um que quiser afirmação, fique doente e vá conferir. Ou vá por curiosidade. Lá poderá observar o que ocorre com o pobre quando fica doente e precisa de um médico. Na verdade, no Brasil é "proibido" ficar doente. "Isto não é uma vergonha"? Esses fatos não são marcantes. São "sufocantes", e ele define exatamente o que seja o SUS.
Sempre me lembro das palavras cheias de sabedoria e, infelizmente, sempre atuais, de Rui Barbosa, naquele célebre discurso no senado federal:

"De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto".

E o pior de tudo isso é a atualidade dessas palavras, que, se hoje fossem proferidas, fariam o mesmo sentido, teriam a mesma validade, seriam perfeitas para retratar o momento atual por que passa o nosso Congresso Nacional e o país.

Em meio a tantos outros luminares que a posteridade reduziu a sinônimos de ruas e de praças, o jurista Ruy Barbosa é, provavelmente, o republicano brasileiro mais expressivo. "O político planta couve para o alimento de amanhã. O estadista planta o carvalho para o abrigo do futuro." Palavras de Ruy, um plantador de carvalhos.

E como as frivolidades, as desonras, as injustiças continuam a crescerem e se agigantarem nas mãos dos maus, precisamos de muitos Jeovahs e Boris que como Ruy Barbosa fazia, eles hoje fazem, ou seja, combatem os podres do Congresso Nacional e do Palácio do Planalto. Porque ser jornalista para pesquisar receitas de bolo e merenda... é melhor deixar de sê-los. Não é ser jornalista, é ser cúmplice de um governo que pensa somente em seu próprio bem estar e não nos 50 milhões de pobres brasileiros.
No caso de Boris Casoy, a verdade doía demais no Palácio do Planalto e foi por isso que assistimos os episódios de sua demissão da TV Record. A Empresa se viu enfraquecida pelas pressões do governo Lula e o demitiu sumariamente. (Veja a reportagem da revista "Istoé Gente" de abril de 2006): "No dia 30 de dezembro de 2005, a Rede Record anunciou a rescisão de contrato com o apresentador do Jornal da Record, em comum acordo entre ambos. No entanto, Casoy, já ex-Record, afirmou em várias entrevistas no decorrer de 2006 que fora demitido por motivos políticos e deixara a emissora por não concordar com as inovações do departamento de jornalismo da emissora. Em entrevista, Casoy afirmou que o partido dos trabalhadores pressionou a direção da Rede Record para tirá-lo da emissora. A emissora ficou sem os anúncios publicitários das empresas federais, incluindo as propagandas da Petrobrás".

Quando um governo influencia uma emissora de TV a demitir apresentadores de telejornais porque não cumpriram uma ordem qualquer de algum ministro ou assessor de governo para não divulgar essa ou aquela notícia, então a coisa começa a atingir um grau bastante elevado de autocracia disfarçada, igualando o governo Lula lá aos desmandos dos Art. inconstitucionais dos vinte anos de ditadura militar. Não há uma sociedade (até mesmo a nossa) que não vigie o seu governo.

(este artigo publicado no Piauí é do meu mano Douglas Moura Nunes, um cara de suprema inteligência, mas que a degradação brasileira deixou-o em última instância nessa fila, em que só aparece quem tem mais dinheiro)

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Poema: Nossa Padroeira

- 26/09/2007

Conta-nos a história do vaqueiro João das Dores,
Da promessa que fez com intenção
De seu filho que havia partido com suas dores
para um conflito no distante Maranhão.
Todo o povo vivia sobressaltado,
Pela captura à força de combatentes
Jovens dos braços das mães retirados
não lhes valendo os pedidos comitentes.
Só mesmo com a intervenção Divina,
Poderia impedir a dor que atua...
De ver seu filho amado e querido,
Sucumbir numa luta que não era sua.
O conflito em questão era a Balaiada,
João das Dores sabia do embate mortal,
fez pedir ao patrão, uma imagem talhada
e este o atendeu... a imácula de Portugal.
Trazida que foi com muita penalidade,
Nossa Senhora dos Remédios, nossa padroeira,
por negro escravo a pé até nossa cidade...
Esse servo cujo nome a história esqueceu.
Na chegada à Picos na travessia do Guaribas...
Na hoje Passagem das Pedras, total exaustão...
O escravo, sua imagem, e sua alforria
Recompensa de tão pesada excussão.
Naquele dia recebeu sua bendição
do sacerdote, todos em canções e méricos,
O povo, os fiéis a adorar com benção
A Nossa Senhora dos Remédios!
Da nossa padroeira essa é a história,
Durante anos envolvendo nossa gente,
Esse fato histórico construído com glória,
Dores e sacrifícios que o povo sente.

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